sábado, 8 de novembro de 2008

Quindim com cappuccino

- Olá!
- Oi!
- Estou sozinho na outra mesa. Acabei de levar um bolo de um cliente e, como não gosto de tomar café sozinho, poderia sentar-me com você?
- Claro. – respondeu Érica, enquanto admirava a mistura de timidez e ousadia do rapaz de terno à sua frente.
- Está sozinha também?
- Pois é. Também levei o bolo.
- Namorado?
- Mais ou menos. – ela não queria entrar em detalhes.

Um garçom aproximou-se da mesa:

- O que vão querer?
- Um quindim e um cappuccino pra mim!
- Eu ainda não decidi.

O garçom sai

- Eca. Que tipo de pessoa toma cappuccino com quindim?
- Nossa, é uma delícia, você tem que provar. Aliás, meu nome é Paulo.
- Érica, prazer.

O diálogo havia acontecido há pouco mais de três meses e rendeu um rápido namoro. Em um outro café em uma outra cidade, enquanto aguardava um garçom atendê-la, Érica pensava em Paulo, mas não se lembrou da cena acima. “Nada”, pensava ela. “Nada de novo aprendi com ele. Nenhuma marca ele deixou em mim”. Gostava de fazer avaliações a cada fim de relacionamento. Fazendo isso, tentava entender o porquê do destino ter colocado determinada pessoa em seu caminho. Porém, com Paulo, não encontrava motivo algum. “Foi um romance rápido, sem conseqüências e que vou esquecer em pouco tempo”, concluía.
Olhava o menu, observava as pessoas no café, folheava uma revista, mas sempre voltava a Paulo. Não lhe fazia sentido uma pessoa passar por sua vida sem lhe deixar nenhuma marca, sem lhe mudar um tiquinho sequer. Os filmes, os livros, os assuntos que gostava, o corte de cabelo, o jeito de se vestir continuavam os mesmos. “Se ao menos ele tivesse mudado um pouco, faria algum sentido, mas eu também não mudei nada nele”. Érica não concebia encontros casuais sem um propósito maior, tudo deveria ser parte de uma engrenagem de aprendizado e aprimoramento humano.
Ela não tinha raiva, não tinha saudades, não tinha remorsos, gratidão, culpa, nada. E esse nada era o que mais a incomodava.

- O que vai querer?
- O quê?! – reagiu assustada à pergunta do garçom, que parecia ter surgido do nada para lhe atrapalhar os pensamentos.
- A senhora vai querer algo?
- Ah, sim! Um cappuccino e um quindim, por favor.

O garçom serviu-lhe.
Ela mordeu o quindim. Enquanto o pedaço terminava de desmanchar em sua boca, tomou um gole do fumegante cappuccino, fechou os olhos e levantou levemente o queixo:

- Hummmm!

Suspirou profundamente, sentindo o gostinho que aos poucos ia sumindo da boca. Nesse momento pensou:

- Nada, definitivamente não aprendi nada com ele.

6 comentários:

Renata ;) disse...

q d+!!
gostei mto da história.
viu só?! as nossas limitações desaparecem qdo temos a válvula propulsora mais potente do universo: a paixão. Sim, temos q encontrar algo que nos mova, nos faça ir para a frente. Você encontrou! As refeições!!!
bjo
ps: não, nada a ver com o poddle =D

Unknown disse...

Poxa Rê, cheguei a pensar, lendo seu comentário, que a válvula era EU =(
Doce ilusão...
Amei o texto Leozito, mas da onde vc tirou a idéia de quindim com cappuccino? Sei que são duas coisas que vc ama, mas a mistura deles deve ser 'disgusting'!!

Bruno Norito disse...

E foi assim que começou a história: "- Eca. Que tipo de pessoa toma cappuccino com quindim?", Anaelisa.

Apropósito, precisamos de comicidade deste tipo com mais frequencia. Clássica, sem pudor, de certo modo previsível, mas ainda assim cômica.

Um pouco Woddy Allen, eu diria, mas só um pouco, posto que a história faz sentido.

Ósculos e amplexos.

Henry Bugalho disse...
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Laura disse...
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Paula Dell'Avanzi disse...

Gostei muita da idéia do seu texto,Já me frustei demais na cozinha profissionalmente, mas a cozinha dia a dia é muito reconfortante,não sei muito da mistura de cappucino e café, mas as vezes precisamos arriscar para sentir um sabor novo, eu pessoalmente amo morango com requeijão e hortelã, acredite!!