sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A festa

Depois da cerimônia, os noivos cumprimentam os convidados na porta da igreja. Com os rostos doídos de tanto sorrir, eles entram na limousine, rumo ao buffet.

- Não vejo a hora de comer aquela barquinha de espinafre – comenta o noivo com expectativa. Ela ansiava pelo espeto de camarão com vagem.

Na porta do buffet, todos os padrinhos os aguardam. Cada casal quer uma foto com os noivos em sua própria máquina. Algum azarado, que por coincidência saiu para fumar um cigarrinho naquela hora, é incumbido de registrar o momento. Vinte máquinas fotográficas (16 dos padrinhos e quatro de enxeridos), 28 flashes nos noivos. Sim, 28. Tem sempre alguém para dizer: “sai piscando, tira outra”. Na devolução das máquinas, confusão. Seis meses depois ainda tinha gente procurando sua Sony prateada.

Os noivos entram. Ele olha para mesa decorada, prestes a pegar um bombom.Não dá tempo. O vocalista da banda pede uma salva de palmas anunciando a chegada dos pombinhos.

Enfim o rodízio. Não de comida, o de mesas. Os noivos têm de ir às mesas dos convidados principais. “Parabéns” “Você estava linda” “Cuida bem dessa moça, hein” “E filhos, já estão planejando?”

O rodízio de mesa é vantajoso para o noivo. Os homens cumprimentam rapidamente e, enquanto as mulheres concentram-se no vestido dela, ele furta algumas trouxinhas de palmito das mesas. Mais algumas mesas e certamente ele cruzaria com a barquinha de espinafre. Não há tempo. Os amigos da faculdade o seqüestram para a venda da gravata.

A noiva ganha alguns minutos de descanso, mas o camarão com vagem já foi servido.

- Lichia recheada, senhora? – oferece o garçom.

Mas as amigas de infância pediram para banda tocar YMCA, e a presença da noiva é imprescindível.

Mesas sujas, a bancada de doces da saída devastada, aquele tio embriagado ainda dançando na frente do palco vazio. A festa acabou.

A limousine leva os noivos para o apartamento novo. Ele com a gravata solta e os cabelos despenteados, ela com os sapatos nas mãos, ambos suados e cansados. Eles sobem o elevador. O noivo cogita levá-la no colo, mas já não restam forças para isso. Ele abre a porta, ela entra e solta os sapatos no chão. Ele solta o cinto e tira o paletó. Ela segue desabotoando o vestido. Camisa, calças e cinto do terno estão sobre o sofá. Deitada na cama, ela tira a meia calça. Ele pára na porta do quarto e diz:

- Enfim, sós!

Com olhar malicioso, ela o olha:

- Está pensando o mesmo que eu?

- Claro! Quatro queijos ou portuguesa?

4 comentários:

Renata ;) disse...

Sensacional!! Mto bom mesmo...muito real essa história!!!
Ha-ha-ha!!

Leonardo Maturana disse...

auhsahusa
Alguém com autoridade no assunto. Definição de festa de casamento: ritual de sacrifico em que o fiel gasta uma fortuna para alimentar muitas pessoas e se auto-punir passando fome.

Gabriela Borini disse...

hahahahaha muito bom o conto e muito bom seu comentário!!!!! adorei, léo. demais mesmo! um dia eu chego lá. será?
ehuiehiuehehuehi
beijo beijo

[ps.: já já chega mais coisa pra vc trabalhar. acabei de fazer 'mutum'. vou revisar amanhã e já mando pro chefe]

Bruno Norito disse...

Portuguesa, é claro. Não há melhor.

Muito boa a história, humor é sempre bom...

Bom ano ae..

Aquele abraço

PA: CORMA